A RESTAURAÇÃO DE DEUS - PARTE XIII

A PORTA DO PEIXE

 

Como vimos, a primeira porta que foi restaurada nos muros de Jerusalém, no livro de Neemias é a porta das ovelhas. Vimos que esta porta não tem tranca nem ferrolhos. Todas as outras tinham trancas, mas a porta das ovelhas não possuía tranca. Isto nos ensina que apesar da cidade ter um muro de separação, separando o santo do profano e o vil do precioso; separando um reino de outro reino e também para deter o inimigo, a Igreja do Senhor tem uma porta aberta para todo aquele que crer e entrar por Cristo, pela porta das ovelhas.

A segunda porta que foi restaurada nos muros de Jerusalém é a porta do peixe: "E a porta do peixe edificaram os filhos de Hassenaá; a qual emadeiraram, e levantaram as suas portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos. E ao seu lado reparou Meremote, filho de Urias, o filho de Coz; e ao seu lado reparou Mesulão, filho de Berequias, o filho de Mesezabeel; e ao seu lado reparou Zadoque, filho de Baana. E ao seu lado repararam os tecoítas; porém os seus nobres não submeteram a cerviz ao serviço de seu senhor" Neemias 3.3-5.

A porta do peixe diz respeito ao evangelismo como um ministério da Igreja. Creio que esta é a porta a qual nos leva para fora no arraial, pela qual devemos levar o seu vitupério (Heb. 13.13). Como vimos, o muro é para fazer separação, e as portas são para que Cristo possa ser conhecido dos que estão dentro dos muros e dos que estão fora. A porta do peixe é a porta que saímos para pregar a Jesus Cristo como as boas novas de Deus.

Jesus, assim que chamou os seus discípulos se referiu a esta porta quando disse: "Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens" Mat. 4.19. Tanto para o evangelho da graça como para o evangelho do reino Jesus usa o peixe como figura do homem pecador a ser alcançado: "Igualmente o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanha toda a qualidade de peixes. E, estando cheia, a puxam para a praia; e, assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora" Mateus 13.47-48.

O texto de Isaías capítulo 52, no verso 7, também fala da pregação do evangelho, nestes dois aspectos: Graça e Reino, quando diz: "Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina". Fazer ouvir a salvação, e que o nosso Senhor reina. Quando este evangelho, o do reino, for pregado a todas as nações, então virá o fim (Mt. 24.14). O evangelho são as boas novas em uma Pessoa; Jesus Cristo (Rom. 1.1-3).

Esta porta tem trancas e ferrolhos, mas elas se encontram no lado de dentro dos muros. Ela é trancada para os que estão fora não entre por ela, mas pela porta das ovelhas. Ninguém entra pelo evangelho em si, mas pela Pessoa de quem o evangelho se refere, de Cristo, a porta das ovelhas.

A porta do peixe só pode ser aberta por dentro do muro, para os que estão dentro saíam e pregue o evangelho a toda criatura. Por isso o Senhor disse: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" Marcos 16.15. Ele não disse: - Vinde à igreja para ouvir o evangelho. A reunião da Igreja é para o ensino, comunhão, partir do pão e orações como já vimos, mas o evangelho é para os pecadores que estão fora. A ordem do Senhor é 'Ide'.

Como já vimos no ministério sacerdotal, o filho de Deus, como um sacerdote real, ministra coisas espirituais a Deus e aos homens pela vontade de Deus. A Deus no santo e no santíssimo lugar, e aos homens no  átrio, àqueles que estão se achegando a Deus, e fora do arraial, no mundo, aos homens pecadores. A Igreja é uma embaixada, e os filhos de Deus são os embaixadores da parte de Cristo que tem a incumbência do ministério da reconciliação; como se Deus por nós rogasse que os pecadores se reconciliem com Ele (II Cor. 5.20).

O nome daqueles que restauraram esta porta é muito significativo também. Hassenaá quer dizer 'Luz'. Meremote quer dizer 'Alturas'. Mesulão quer dizer 'Amigo'. Zadoque quer dizer 'Reto, Justo', e tecoítas, filhos de Tecoa quer dizer 'Firmes’. O evangelho traz luz das alturas, e nos faz amigos de Deus, justos e firmes no Senhor. O evangelho é Cristo, a Luz, a estrela da manhã surgindo em nossos corações (II Cor. 4.6), nos fazendo nascer do alto, de Deus (Jo. 3.3). Novas criaturas em Cristo, não mais servos, mas amigos (Jo. 15.15). Fazendo de homens pecadores homens justos, sendo Ele a nossa justiça (Jer. 33.16), e fundados e firmes na fé, no evangelho que ouvimos (Col. 1.23).

Algo precioso nestes textos de Neemias é que o Espírito Santo deu testemunho que sempre há alguém ao lado do outro para restaurar. Isto não é obra humana, e muito menos de um ou de alguns homens, mas de Deus usando os seus filhos em comunhão, lado a lado neste trabalho. Como já citamos anteriormente, nem todos são chamados para entrar neste ministério de restauração, mas o propósito de Deus é para todos, que todos cheguem ao pleno conhecimento do Filho de Deus. Aqueles que são chamados têm um coração inclusivo, e também compreende que este trabalho cabe a muitos, cada um com a sua medida de fé e do dom de Cristo (Rom. 12.3, Ef. 4.7). Pensa sobriamente, segundo a graça que Deus deu a cada um. São muitos fazendo a obra, mas com um só coração e propósito: glorificar a Cristo, restaurar o testemunho de Deus.

O evangelho a ser pregado é algo que precisamos considerar também. Paulo já dizia naquela época: "Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; o qual não é outro..." Gálatas 1.6-7. Jesus disse que é fácil sabermos se alguém que prega foi ou não enviado por Deus, quando diz: "Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça" João 7.18.

Há muitos evangelhos sendo pregado hoje em dia, o qual não é outro, senão anátemas. Quando o evangelho ou qualquer outra pregação não tem a Cristo, não aponta para Ele é anátema. Se um pregador não for cristocêntrico, com certeza estará falando de si mesmo e buscando a sua própria glória. Não há evangelho quando não se fala de Cristo, e este morto e ressuscitado (I Cor. 2.2). Morto, mas que agora reina (At. 2.36). E isto era o que os apóstolos pregaram no poder do Espírito à partir do Pentecostes: "E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça" Atos 4.33.

Paulo em Romanos, fala no capítulo 1, no verso 15, que gostaria de anunciar também aos romanos o evangelho. De que evangelho ele fala, sendo que ele não escreve a pessoas incrédulas, que não conhecem ao Senhor Jesus, mas sim a irmãos em Cristo? E todos eles eram irmãos já amadurecidos como nos apresenta em Romanos capítulo 16!

A princípio vemos nas Escrituras o evangelho da graça: "Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus" At. 20.24. Este evangelho nos fala de toda a graça de Deus que nos foi dada em Cristo naquela cruz. O evangelho da graça é Cristo crucificado, a Palavra da cruz: "Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus" I Cor. 1.17-18.

Quando cremos no evangelho da graça, nascemos de novo e entramos no reino de Deus (João 3.3-5). Uma vez no reino, o Senhor nos apresenta o evangelho do reino. O evangelho da graça nos fala das boas novas em Cristo para a nossa salvação, o evangelho do reino nos fala das boas novas sobre o reino em Cristo: "E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino..." Mat. 4.23.

Grande parte da pregação de Jesus foi sobre o evangelho do reino, o evangelho para os filhos de Deus. Se ouvirmos sobre o evangelho do reino antes de ouvir o evangelho da graça, corremos o risco de achar que a salvação é pelas obras, mas não. O evangelho da graça é toda a graça que nos foi dada por Deus em Cristo, já o evangelho do reino é para que os santos que estão em Cristo sejam o reino: "Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; se sofrermos, também com ele reinaremos..." II Tim. 2.11-12.

Tanto o evangelho da graça, como o evangelho do reino fala de tudo o que Deus nos deu em Cristo, o Filho do Deus vivo. Como diz Paulo em Romanos 1, o evangelho é a Graça e o Reino em Cristo, não algo separado dEle. A Graça é Cristo e o Reino também, por isso Ele disse: "O reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está dentre de vós" Lucas 17.20-21. Isto é o evangelho, a Graça e o Reino por Cristo em nós. Aleluia!

A porta do peixe é a segunda porta a ser restaurada, porque à partir da regeneração, de entrarmos pela porta das ovelhas, o Senhor já nos chama a sair e pregar o evangelho. Qualquer filho de Deus, por mais novo que seja está apto para pregar o evangelho; ele pode anunciar as grandezas daquele que o tirou das trevas para a sua maravilhosa luz (I Pd. 2.9). É por aqui que começa o ministério sacerdotal de todo filho de Deus, o ministério a favor dos homens pecadores.

Nem todos irão ter ministérios da Palavra. Nem todos serão apóstolos, profetas, pastores ou mestres, mas todos os filhos de Deus, sem exceção, são chamados para pregar o evangelho. Muitos após serem salvos Jesus os enviou para anunciar o evangelho, dentre eles a mulher samaritana (Jo 4.39), e o endemoninhado de gadareno (Mc. 5.19), e os próprios apóstolos. Para a obra do ministério para edificação do corpo de Cristo temos que ser aperfeiçoados, mas para pregar o evangelho não. Muitos dão muito fruto no princípio da sua conversão, na alegria do primeiro amor. O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas é sábio (Pv. 11.30).

Muitos quando os olhos são abertos para ver a Cristo, e nEle o seu mistério que é a Igreja, ficam centrados apenas na edificação da igreja, mas isto é um erro. A partir do momento que Cristo é restaurado como o tudo, Ele ensina para que a Igreja seja missionária. Esta porta nos ensina isto. Esta é a função da Igreja para com o mundo, para com os homens pecadores. Se a Igreja cuidar somente da edificação, de regar, irá se tornar uma terra alagada, um pântano. Deus tem uma lavoura, mas primeiro é necessário plantar, para depois regar. Não se pode regar algo que ainda não foi plantado.

É verdade que não se pode esquecer de regar também e ficar só no plantio, mas cada coisa tem o seu tempo e propósito. Como diz Paulo, um planta, o outro rega, e Deus dá o crescimento (I Cor. 3.7). A Palavra de Deus como já citamos é semente para o que semeia e pão para o que come, como também água para regar (Isa. 55.10-11). 

A porta do peixe também tem a figura da madre de uma mulher. Ela é uma porta bendita que estará sempre aberta uma vez que é restaurada. Ela é a madre da Jerusalém que é de cima, do alto, a qual é a nossa mãe, que faz nascerem filhos da promessa (Gal. 4.21-28). Como uma estéril que tem muitos filhos, pois a Igreja é estéril em si mesma, porque por ela mesma não pode gerar filhos. Todos nascem de Deus, por milagre (Jo.1.12). Ele abriu a madre, a porta do peixe, e ela estará aberta para fazer nascer: "Abriria eu a madre, e não geraria? diz o Senhor; geraria eu, e fecharia a madre? diz o teu Deus" (Isaías 66.7-11).

Saíamos, pois, por esta porta, e lancemos sobre a Palavra de Cristo as redes, e teremos uma pesca maravilhosa. "Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará, se esta, se aquela, ou se ambas serão igualmente boas" Eclesiastes 11.6.

No final do verso 5 do capítulo 3 de Neemias, na versão CMTHG, diz que os nobres não meteram o pescoço no serviço do seu Senhor. O Espírito não deixou de relatar isto, porque é de muita importância para nós. O que é meter o pescoço no serviço do Senhor? É colocar o nosso pescoço na canga com o Senhor, tanto para aprender dEle, como para fazer a sua vontade (Mt. 11.28-30).

Aqui o Espírito relata que nós podemos nos tornar nobres, não nobres no sentido bíblico como os Bereanos, mas aqueles que estão cheios de conhecimento, cheios de orgulho espiritual. Podemos nos assentar como nobres, como aqueles que se servem das coisas do Senhor, mas não servem ao Senhor, não entram no seu serviço. Tornamos-nos daqueles que não negam a si mesmos, e não tomam a cada dia a sua cruz para segui-lo.

Que o Senhor nos guarde de nos sentirmos nobres, capazes, cheios, mas muito poucos atentos no seu serviço, em servirmos ao nosso Senhor. Na restauração há muito trabalho, e não podemos nos sentir nobres e nos eximirmos do serviço, de servirmos de coração ao nosso Senhor.  

   

Obs: Amados irmãos, não deixem de ler os versículos acima citados entre parêntesis, porque eles são a parte mais importante desta meditação. Não é o texto escrito que tem valor, mas a Palavra de Deus. Ela é que é viva e eficaz. O texto é como Esdras fez, para dar sentido ao que estamos falando. O sentido é nosso, mas a Palavra é de Deus. Amém.

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