A RESTAURAÇÃO DE DEUS - PARTE XIV

A PORTA VELHA

 

A porta velha é a terceira porta que foi restaurada nos muros de Jerusalém. Assim diz em Neemias capítulo 3, nos versos 6 a 11: "E a porta velha repararam-na Joiada, filho de Paséia, e Mesulão, filho de Besodias; estes a emadeiraram, e levantaram as suas portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos. E ao seu lado repararam Melatias, o gibeonita, e Jadom, meronotita, homens de Gibeom e Mizpá, que pertenciam ao domínio do governador dalém do rio. Ao seu lado reparou Uziel, filho de Haraías, um dos ourives; e ao seu lado reparou Hananias, filho de um dos boticários; e fortificaram a Jerusalém até ao muro largo. E ao seu lado reparou Refaías, filho de Hur, líder da metade de Jerusalém. E ao seu lado reparou Jedaías, filho de Harumafe, e defronte de sua casa e ao seu lado reparou Hatus, filho de Hasabnéias. A outra porção reparou Malquias, filho de Harim, e Hasube, filho de Paate-Moabe; como também a torre dos fornos. E ao seu lado reparou Salum, filho de Haloés, líder da outra meia parte de Jerusalém, ele e suas filhas".

A restauração da porta velha se refere à restauração do testemunho da Pessoa de Cristo em todo ensino da Palavra de Deus, daquilo que era desde o princípio. Porta velha não porque se tornou velha ou obsoleta, mas porque Deus não quer nenhuma novidade que esteja fora de Cristo; nada que seja moderno, e que exclua o Filho do Deus Vivo. João em sua primeira carta resgata todo o ensino acerca desta porta quando a igreja se encontrava em queda, quando disse: "Portanto, o que desde o princípio ouvistes permaneça em vós. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai" I João 2.24.

João também nesta mesma carta fala que alguém se torna maduro espiritualmente, ou um pai, quando conhece aquele que é desde o princípio (I Jo. 2.14). Toda restauração nos faz retornar ao princípio, porque o princípio é a revelação mais pura, quando ainda não foi contaminada. Como já falamos anteriormente, a restauração de Deus é do seu testemunho, e este testemunho é acerca do Seu Filho. Na sua restauração Deus faz retornar tudo ao princípio, tudo para Cristo, para o seu projeto inicial e único, por isto esta porta é chamada de velha.

Como podemos notar pelos nomes que restauraram essa porta, quase todos são homens de renome. Como nos ensina o texto, eles eram ourives, boticários, e líderes da cidade; e também cita Salum ajudado pelas suas filhas. O Espírito Santo nunca deixa que o trabalho no Senhor seja esquecido, por isso lembra aqui o trabalho das filhas de Salum, ainda que não fosse trabalho para mulheres. Salum quer dizer 'retribuição'. Pelo visto esta família prestou este serviço ao Senhor em retribuição à misericórdia manifestada sobre a sua casa. Não por obrigação, mas por amor ao Senhor.

Apesar da obra de restauração estar relacionado com o ministério dos homens, as mulheres tem um papel muito precioso na Igreja. Paulo em todas as cartas sempre deu testemunho das irmãs que serviram a Igreja e que trabalharam no Senhor (Rom. 16.1, 12). O Senhor Jesus também disse de uma mulher em Betânia, que em João capítulo 12, no verso 3, diz que foi Maria, a qual o ungiu com um balsamo de nardo puro de grande valor, que por onde quer que este evangelho fosse pregado em todo o mundo, também seria referido o que ela fez, para memória sua (Mat. 26.13).  

Esta porta nos ensina que a partir da regeneração e do 'ide' de Jesus, de levar o evangelho a toda criatura, a Igreja deve retornar ao princípio do ensino da Palavra. Ela deve retornar para a Palavra de Deus, isto é, para o Cristo da Palavra de Deus. Tudo o que não é Cristo é considerado pelo Espírito como um modismo, uma novidade que não traz Vida. O ensino passa a ser uma novidade, mas esta novidade é tirada do velho tesouro como disse Jesus: "Por isso, todo o escriba instruído acerca do reino dos céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas" Mateus 13.52.

O Senhor sempre que exorta o seu povo, faz retorná-los ao princípio. A porta velha resgata aquilo que Deus estabeleceu como princípio e que não pode ser removido: "Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas" Jeremias 6.16. Cristo é o caminho, como também o princípio e o fim, o Alfa e o Ômega de tudo: "Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro" Apocalipse 22.13.

Depois que a igreja caiu num tempo escuro, o Senhor, cerca de 1450 anos depois de Cristo, através de Martin Lutero, fez o povo retornar para a Sua Palavra, revelando pelo seu Espírito a justificação pela fé. Cerca de 300 anos depois, por causa de um clamor do seu povo, Deus trouxe a sua Igreja de volta para a Sua Palavra revelando a sua santificação pela fé. Cerca de 100 anos depois o Senhor pelo seu Espírito trouxe a Igreja a revelação da Sua Palavra quanto à glorificação pela fé.

Tudo sempre esteve na Sua Palavra, mas por séculos ficou como que encoberto, até que o Senhor trouxe luz e fez com que o seu povo retornasse ao princípio da revelação. Que a justificação, santificação e glorificação estão tudo em Cristo. Agora não podemos remover os marcos antigos que foram estabelecidos por nossos pais, mas retornar a eles. O Espírito não pode seguir adiante com edificação da Igreja se ela perder esses marcos antigos (Prov. 22.28). Eles já foram estabelecidos, e para que possamos prosseguir em graça e em estatura temos que fazer com que estes marcos antigos estejam estabelecidos na vida de cada cristão.

Não pode haver crescimento espiritual sem primeiro haver justificação. Depois da justificação pela fé é necessária a santificação. Neste tempo ouvimos muito sobre edificação da Igreja, mas se esta edificação não estiver fundamentada na obra da Cruz, quando vier a tempestade irá ruir. É uma edificação sem fundamento. Jesus sempre desejou a sua amada esposa, a Igreja, mas primeiro Ele teve que se entregar por ela. Qualquer um que queira participar da Igreja do Senhor primeiro precisa ser justificado, e depois santificado e glorificado. Sem santificação ninguém verá o Senhor (Hb. 12.14).

Mas esta porta também tem tranca e ferrolhos, e a tranca e os ferrolhos como a porta do peixe e as outras portas, não pode ser aberta pelo lado de fora, somente pelo lado de dentro. Por isso ela também nos ensina que o que é do velho homem, e que está fora, no mundo, não pode entrar para dentro dos muros, somente o que é do velho pode ser retirado para fora. E há muito do velho para ser despojado da Igreja: "Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano" Efésios 4.24.

Esta porta nos ensina também que o despojamento não é individual. Eu como um cristão individual não posso me despojar das coisas do velho homem em mim mesmo. Tanto o velho como o novo homem são coletivos. Este texto acima está em Efésios e este livro nos fala da Igreja. Por isso cada cristão necessita da comunhão dos santos, e juntos haver um despojamento. Não adianta um se despojar e o outro não. As coisas do velho estão para dentro dos muros e devem ser tirados para fora.

Tanto não é individual que a restauração é feita por várias pessoas mesmo que seja em apenas uma porta. E cada um restaurava ao lado do outro. Isto nos ensina que esta obra da restauração não é feita por um só, mas por vários irmãos, um ao lado do outro. No mesmo propósito, na mesma obra, e cada um com a sua medida de fé, cada um com a sua medida do dom de Cristo. Um ao lado do outro. Cada um em sua medida, mas com um único propósito.

A porta velha também nos ensina que as coisas velhas já passaram e tudo se fez novo. O que está dentro dos muros e das portas é do Novo Homem, e tudo o que é do velho homem deve ser despojado. Não é despojar o velho homem, porque dentro não há nada velho, tudo se fez novo. O que tem que ser despojado são as coisas do velho homem, as sua manias, as suas paixões, as suas concupiscências: "Mas agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca. Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos, e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; onde não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos" Colossenses 3.8-11.

Este despojamento é o processo de santificação pela fé. Como Paulo nos ensina em Efésios capítulo 5, nos versos 25 a 27, Jesus se entregou pela Igreja, a fim de purificá-la e santificá-la, e apresentá-la a si mesmo uma Igreja gloriosa. E como está escrito no texto de Colossenses 3.11, acima, a obra de glorificação é que Cristo seja tudo em todos. Para isto somos transformados de glória em glória na sua imagem, pelo Espírito do Senhor (II Cor. 3.18).

O velho homem tem a figura da estátua de Nabucodonozor que começou com ouro e terminou com ferro misturado com barro. Naquela estátua vemos a decadência do homem. Tudo o que é do velho homem terminou na cruz do calvário em Cristo. Ali, Ele como o segundo homem se tornou o último Adão. Quando Jesus foi colocado na cruz, ele crucificou o nosso velho homem, para que o corpo do pecado fosse destruído, e não servíssemos mais ao pecado como escravos (Rm. 6.6). Jesus por sua obra na cruz é a pedra que foi tirada sem o auxílio de mãos, o qual feriu os pés da estátua e os esmiuçou (Dn. 2.34-35).

A pedra esmiuçou toda a estátua e ela foi espalhada pelo vento, e não se achou mais lugar para ela. Mas a pedra se tornou um monte e encheu toda a terra. Aleluia! O homem que começou sendo formado pelo barro, se exaltou e se tornou a cabeça de ouro, mas depois viu a sua glória ir se desvanecendo para prata, bronze, ferro e o barro. Ele retornou ao barro, ao pó, ao seu lugar de origem. Mas Jesus foi exaltado a Príncipe e Salvador, Senhor e Cristo. Exaltado à destra de Deus, e recebeu um Nome que está acima de todo o nome, para que ao Nome de Jesus de dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fil. 2.9-11).

O velho homem foi destruído e espalhado aos quatro ventos. Não há mais lugar para ele dentro dos muros de Jerusalém, para dentro do Corpo de Cristo. Esta porta fala do velho que deve ser restaurado e preservado, mas também do velho que foi destruído e que deve ser despojado. O velho que deve ser restaurado é tudo o que é do novo desde o princípio, e o velho que deve ser retirado é tudo o que diz respeito à velha vida, ao velho Adão. A porta do monturo, que vamos ver depois, nos fala mais especificamente do que tem que ser despojado, do lixo que há para dentro da Casa de Deus. Um lixo que ainda produzimos e que tem que ser lançado fora.

Que o Senhor abra os olhos do nosso entendimento para compreendermos mais claramente o caminho que devemos seguir, porque a restauração não se faz com doutrina, mas com prática. Eles não falaram de um projeto de restauração, mas puseram a mão à obra. Não é saber da restauração e ficar sentado como os nobres que não se dispuseram à obra. Restauração é realidade, é vida do Senhor Jesus. Isto só é possível com uma mudança de mente, uma renovação do nosso entendimento (Rm. 12.2, Ef. 4.23). Despojar do velho e revestir do novo.

 

Obs: Amados irmãos, não deixem de ler os versículos acima citados entre parêntesis, porque eles são a parte mais importante desta meditação. Não é o texto escrito que tem valor, mas a Palavra de Deus. Ela é que é viva e eficaz. O texto é como Esdras fez, para dar sentido ao que estamos falando. O sentido é nosso, mas a Palavra é de Deus. Amém.

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