EM CRISTO
por T. Austin-Sparks

 

Capítulo 1 - O Todo Inclusivo "EM"

 

Não há nenhuma frase ou fórmula que ocorra com maior freqüência no Novo Testamento do que esta, “em Cristo”. Algumas vezes ela varia nas traduções quando “por”, “através” e “com” são usados, e algumas vezes no texto original ela muda na forma, “em Cristo Jesus”, “Nele”, etc., mas em todas as duzentas vezes de sua ocorrência, o princípio é o mesmo. Em toda a doutrina cristã não há nada mais precioso, e, contudo, não há nada menos compreendido e apreciado.

Numa declaração consumada é-nos dito que Deus propôs congregar todas as coisas em Cristo (Ef. 1:10) e que fora dEle não há nada que tenha qualquer lugar no Seu propósito eterno. O plano, o método, os recursos, os tempos, as coisas eternas, são Cristosféricas.

A Criação está EM Cristo.
A Vida está EM Cristo.
A Aceitação está EM Cristo.
A Redenção está EM Cristo.
A Justiça está EM Cristo.
A Santificação está EM Cristo.
A Esperança está EM Cristo.
As Bênçãos Espirituais estão EM Cristo.
A Consolação está EM Cristo.
A Paz está EM Cristo.
A Oração Eficaz está somente EM Cristo.
A Força e as Riquezas estão EM Cristo.
O Propósito Eterno está EM Cristo.
A Nova Criação está EM Cristo.
As Promessas estão EM Cristo.
O Escape da Condenação está EM Cristo.
O Um Corpo está EM Cristo.
A Perseverança está EM Cristo.
O Ser Um está EM Cristo.
Os Limites do Sofrimento dos Cristãos estão EM Cristo.
A Não Separação está EM Cristo.
O Homem Perfeito está EM Cristo.
O Auxílio Mútuo está EM Cristo.
Há as Igrejas EM Cristo.
Há os Mortos EM Cristo.
Há o Novo Homem e o Homem Perfeito EM Cristo.
Estamos Completos EM Cristo.

O contexto desta fórmula varia de eternidade, através dos séculos, a eternidade. Na eternidade passada fomos escolhidos e eleitos EM Cristo. Ef. 1:4; 1 Ped. 5:13. Durante o tempo, pela Cruz, este fato celestial eterno é trabalhado em forma literal e experimental, expressado por diferentes termos, implicando verdades espirituais progressivas e específicas, mas sempre o mesmo princípio.

"Plantados juntamente na semelhança de Sua morte. Rom. 6:5.
"nos vivificou juntamente com Cristo." Ef. 2:5.
"nos ressuscitou juntamente com Cristo." Ef. 2:6.
"nos fez assentar … em Cristo." Ef. 2:6.
"de tornar a congregar todas as coisas em Cristo." Ef. 1:10
"Ajustados em Cristo. Ef. 2:21.
"Unidos" Col. 2:2.
"Edificados" em Cristo. Ef. 2:20.
"Vivamos juntamente com Ele." 1 Tes. 5:10.
"Cooperando com Ele." 2. Cor. 6:1.
"Combatendo juntamente." Fil. 1:27.

Então vem o clímax, ao final deste tempo, quando tudo acima citado é concluído e somos “juntamente arrebatados”. 1 Tes. 4:17.

Finalmente a eternidade por vir salta à vista e vemos que seremos ‘glorificados juntamente’ com Ele. Rom. 8:17.

Então trazemos à mente a parelha de versos paulinos – que estritamente não são Paulinos, mas do Espírito Divino da verdade – a saber “em Adão” e em “Cristo”. De um lado – a nossa relação com Adão, a velha criação, por natureza - vemos um conjunto de condições, e por outro lado - por nossa inclusão em Cristo - vemos um novo e diferente conjunto.

 

"EM ADÃO"

 

"O Senhor Deus... soprou em suas narinas o fôlego de vida." Gen. 2:7.
"O primeiro Adão tornou-se alma vivente." 1 Cor. 15:45.
"No dia em que dela comerdes certamente morrerás." Gen. 2:17.
"Como em Adão todos morrem." 1 Cor. 15:22.
"A lei do pecado e da morte." Rom. 8:2.
"Ele também é carne." Gen. 6:3.
"A carne para nada aproveita." Jo. 6:63.
"EU" - Fracasso. Rom. 7.
"O velho homem que se corrompe." Ef. 4:22.
"A inclinação da carne." Rom. 8:6.
"Na carne... não há bem algum." Rom. 7:18.
Da carne... corrupção." Gal. 6:8.
"O que é carne é carne." Jo. 3:6.
"O fim... morte." Rom. 6:21.

 

"EM CRISTO"

 

"Assoprou-lhes, e disse: Recebei o Espírito Santo." Jo. 20:22.
"O último Adão... espírito vivificante." 1 Cor. 15:45.
"Novidade de vida." Rom. 6:4.
"Em Cristo todos serão vivificados." 1 Cor. 15:22.
"A lei do Espírito da vida." Rom. 8:2.
"Espírito" - Vitória. Rom. 8.
"O novo homem... criado em verdadeira justiça e santidade." Ef. 4:24.
"O novo homem." Col. 3:10.
"Novidade de espírito." Rom. 7:6.
"À semelhança de Sua ressurreição." Rom. 6:5.
"Crucificaram a carne." Gal. 5:24.
"Nosso velho homem foi crucificado." Rom. 6:6.

Tudo isto, que nada mais é do que citar a Escritura, irá servir para enfatizar a inclusividade e a exclusividade Divina, e irá ajudar, cremos, a reconhecer o grande fato de que NENHUM HOMEM PODE VIVER A VIDA CRISTÃ; HÁ SOMENTE UM QUE PODE VIVER ESTA VIDA, E ESTE HOMEM É O PRÓPRIO CRISTO. Precisamos ter tal inclusão experimental Nele para que Ele viva a Sua vida em nós como membros do Seu Corpo, de modo que “para mim o viver é Cristo” e “não mais EU, mas Cristo." Do mesmo modo que a barra de ferro do ferreiro está no fogo e também o fogo está nela, assim devemos primeiramente entender a nossa posição em Cristo através da Cruz para que Cristo possa se manifestar em nós.

 

CRISTO A SER EXPRESSADO ATRAVÉS DOS FIÉIS

 

É muito importante reconhecer uma verdade sobre a qual Cristo depositou muita ênfase, isto é, que num certo sentido, Ele nunca pretendeu se ausentar deste mundo novamente durante a era, após ter uma vez vindo a ele com o Seu legítimo direito de herança. Ele veio para redimi-lo, para garantir o direito judicial de soberania sobre ele, e para iniciar, continuar e completar a restauração dele para o Seu próprio domínio. Isto tudo é para ser realizado por meio de Sua própria presença nele em uma ou outra das formas de Sua manifestação. Embora Ele falasse muito sobre a sua partida, e de Seu retorno ao Pai, também deixou a Sua permanência muito clara nas seguintes palavras: "Eis que estou sempre convosco, até a consumação dos séculos”. Paulo, mais tarde, disse que o aspecto central ou a realidade do “mistério oculto durante os séculos ..." é "Cristo em vós, a esperança da glória."

A presença física de Cristo no mundo foi primeiramente para manifestar a natureza, o método, os meios, as leis, o propósito e o poder de Sua presença permanente após os dias de Sua carne; e, segundo, para tornar isto possível e real através da obra da Sua Cruz. Ele que nasceu de Deus mostra qual é a necessidade e a natureza do “nascer do Espírito” para que a vontade de Deus seja feita na terra e nos céus. Então, bem no início do Seu ministério, Ele coloca a Cruz na figura do batismo. A partir daquele momento tudo o que Ele disse e fez foi à luz e no poder da Cruz. O ensino de Cristo jamais pode ser efetivo, e as Suas obras jamais podem ser continuadas, a menos que a Cruz esteja na base. Tentar propagar “o ensino de Jesus” ou efetuar a Sua obra sem ter como base tudo aquilo que Ele quis significar por meio da Sua Cruz, é trabalhar em vão e sem a aceitação do Pai. Será necessário retornar a este assunto novamente mais tarde. Por ora, contudo, isto nos leva ao ponto onde vemos que, tendo a Sua presença física estabelecida a base e a natureza de Sua obra permanente, Jesus, por meio da Cruz, efetuou aquilo que tornou possível levar os homens para o mesmo plano ou para o mesmo campo, e, então, trocou a presença separada e individual para uma presença corporativa e universal. Assim “a igreja, que é o Seu corpo” foi trazida à existência como o instrumento da habitação de Sua encarnação no mundo. Este é o único tipo de “igreja” que Ele reconhece, formada por aqueles que foram “unidos no Senhor... um só espírito”. A natureza desta união fica também para uma consideração posterior. A palavra ou o termo “Corpo” não é mera metáfora. Os membros do Seu Corpo estão em relação a Cristo exatamente como nossos corpos físicos estão em relação a nós mesmos – o meio de manifestação, de expressão, e de transação. Esta verdade é muito penetrante, e vai à raiz de todas as questões sobre a vida e sobre o serviço. "Trabalhar para o Senhor”, "orar ao Senhor”, etc., será visto ter uma lei mais profunda que governa sua eficácia.

Não podemos assumir a obra para Cristo – planejar, esquematizar, maquinar ou entrar numa empreitada cristã – e assim controlar a aprovação e a benção Divina. Não podemos orar como nos dispomos, ainda que seja ao ponto das lágrimas, a fim de garantir a resposta Divina. Falhar em reconhecer isto é levar multidões de pessoas ao desespero devido a não aprovação de seus ardentes labores, e da não resposta às suas orações. Na revelação das leis de Sua própria vida eficaz o Mestre coloca tremenda ênfase no fato de que as palavras que Ele falou, e nas obras que Ele fez, não eram dEle mesmo, mas de Seu Pai, tanto falando as palavras como realizando as obras. Um estudo completo do evangelho de João irá nos convencer de que era desta forma. Disse Jesus: “O Filho nada pode fazer de Si mesmo, mas o que Ele tem visto o Pai fazer…” e este conhecimento das transações do Pai quanto ao que, ao como, e ao quando – tudo muito importante – era, como Ele deixou claro, porque Ele estava no Pai. Assim, para todo o futuro da Sua obra Ele orou para que os Seus discípulos pudessem permanecer nEle. Assim, a lei da eficácia e da vida frutífera, do serviço, da oração, etc., é que haja tal unidade de modo que façamos – mas façamos de verdade – aquilo que Ele está fazendo. Precisamos conhecer em nosso espírito exatamente o que Cristo está fazendo, como Ele está fazendo, quais os meios que Ele irá usar, e qual o Seu tempo para isto. Além de que, as nossas orações devem ser as orações do próprio Senhor feitas em nós, e através de nós, pelo Espírito Santo. Este é claramente o terreno no qual a Igreja no tempo apostólico vivia. Isto irá exigir uma considerável peneira em todos os empreendimentos em nome de Jesus, e irá exigir que nada seja feito até que a mente do Senhor seja conhecida. Porém isto irá garantir cem por cento de eficácia, e resultados que jamais irão perecer. Para os propósitos práticos de Deus nesta era Cristo é o Corpo que se liga a Cabeça, e o assunto de cada membro é entender mais e mais o pleno significado desta incorporação e unidade de identidade.

Expressamente nos é dito na Palavra que temos que “nos vestir do novo homem” e que este “novo homem” é Cristo. Esta não é senão uma outra maneira de expressar a verdade sobre “em Cristo”, mas também carrega consigo uma completa revelação de provisão prática.

Cristo é a nossa Redenção. Ele “foi feito para nós redenção” 1 Cor. 1:30; Rom. 3:24; Ef. 1:7; Col. 1:14.

Cristo é a nossa Justiça. 1 Cor. 1:30; Ef. 4:24; Fil. 3:9.

Cristo é a nossa Santificação. 1 Cor. 1:2,30.

Cristo é a nossa Fé. Mar. 11:22 ("Tenha a fé de Deus," literalmente); At. 26:18; Gal. 2:20 (R.V.); Ef. 1:15; Fil. 3:9; Col. 1:4.

Cristo é a nossa Paz. Jo. 14:27; Jô. 16:33; Ef. 2:14.

Esta linha de raciocínio pode ser seguida em inúmeras características, por exemplo, Amor, Esperança, Sabedoria, Poder, Autoridade, Glória. Sugerimos uma comparação de traduções nas referências, melhor de todas no original. O ponto é o seguinte, que em todas essas questões, sob dadas condições, o traje natural irá se romper e terá que ser colocado de lado, mas em Cristo nós temos uma nova vestimenta em todo aspecto. Por exemplo, a nossa fé não irá suportar a pressão das exigências de uma experiência profunda de prova e de adversidade, mas, se “vivermos pela fé do Filho de Deus”, a questão será muito diferente. Todos as provas irão revelar se estamos vivendo pela fé de Cristo, a qual deve se tornar a nossa fé, ou se há uma fraqueza em nossa união com Ele. O mesmo é verdadeiro em todos os aspectos. É bendito entendermos que “em Cristo” temos um legado completamente novo e inesgotável de virtude e graça. De modo que “nos despimos do velho homem… e nos vestimos do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef. 4:22-24).

 

ALGUMAS PREPOSIÇÕES SIGNIFICATIVAS

 

Até aqui temos sido conduzidos em nosso tema por três preposições gregas, a saber: ek – de(procedência); en – em(dentro); and sun - junto.

Esses três fragmentos realmente resumem a verdade e a natureza da união corporativa com Cristo, e estabelecem as leis essenciais e os princípios vitais de toda vida e de todo serviço espiritual verdadeiro e eficaz. Alguma consideração a mais sobre isto será boa antes de prosseguirmos. Cristo teve grande zelo no sentido de repudiar qualquer sugestão e de remover qualquer coisa que caracterizasse que a sua missão como Filho do homem era algo originário dEle mesmo.

1. "EK"

(a) Quanto a Si próprio. Ele repetidamente afirmou: “Eu vim de Deus”. (João 7:29; 8:42; 17:8, etc.).

(b) Quanto ao seu apostolado (Heb. 3:1), Ele descreveu a si mesmo como o “enviado” de Deus (Gr. apostello) (João 3:17,34; 5:36; 6:29,57; 7:29; 8:42; 10:36; 11:42; 17:3, 8, 18, 21, 23, 25; 20:21).

(c) Quanto a sua visão: "O que Ele vê o Pai fazer... isso o Filho faz." (João 5:19).

(d) Quanto as suas obras: "As obras do meu Pai" (João 5:36; 9:3,4; 10:25,32,37; 14:10).

(e) Quanto as suas palavras: "Não falo de mim mesmo" (João 8:28,38; 12:49; 14:10; 17:8,14).

(f) Quanto ao seu reino: "Meu reino não é deste mundo" (João 18:36).

(g) Isto tudo pode ser reunido numa sentença em que uma preposição diferente é usada no grego, mas uma que carrega um pensamento similar: "Agora eles sabem que todas as coisas provem de Ti" (João 17:7.).

O principio mais importante que essas declarações estabelecem é que apenas aquilo que procede de Deus é reconhecido por Deus, cumpre o propósito de Deus, alcança o padrão de Deus, e retorna para Deus. Isto implica que existem outras fontes além de Deus. Em contraste com as declarações anteriores sobre as origens Divinas o Mestre colocou outras fontes tais como:

1. "Vós tendes por pai o Diabo” "Vós fazeis as obras do vosso pai”, etc. (João 8:44,41).

2. "Não de mim mesmo" (João 14:10). Isto foi dito, naturalmente, em sua capacidade de representar o homem como “tornado à semelhança da carne pecadora”, não como Filho de Deus do lado da Deidade. Sempre foi a tentativa do inimigo fazer com que Jesus agisse na carne, como um homem agiria, a fim de que pudesse obter terreno para derrotá-lo, mas Jesus se recusou a agir sob o princípio da carne. Isto é muito claro – e todas as Escrituras concordam em mostrar isto – que a carne é a fonte das coisas que não têm aceitação diante de Deus, mesmo que operem através de formas religiosas e esforços ‘cristãos’.

3. Ainda, constantemente é falado sobre o mundo como produzindo muito daquilo que Deus rejeita e relega ao julgamento. Veja as ocorrências de "de" (procedente do) em relação ao mundo em João 17, e veja mais nas cartas de João, com uma comparação com o ensino de Pedro e Paulo.

Assim somos levados a ver que um significado especial Divino é atribuído aquilo que é “de Deus”.

Agora, aquilo que é verdade sobre Cristo tem que ter uma contrapartida em todo aquele que é usado por Deus para o cumprimento de Seu propósito eterno.

Eles devem ser:

(a) Nascidos de Deus.
(b) Comissionados por Deus.
(c) Ter uma revelação espiritual e sabedoria de Deus.
(d) Falar as palavras de Deus.
(e) Fazer apenas as obras de Deus.
(f) Buscar primeiro o reino de Deus.
(g) Assegurar-se que “todas as coisas procedem de Deus”. (2 Cor. 5:18).

Esta era a base apostólica. O Espírito Santo tinha vindo para que isto fosse tanto possível quanto real. Isto aponta, portanto, para a eficácia do testemunho e dos trabalhos deles. Eles sabiam o que significava ser batizado “em um só Espírito … em um só Corpo”, do qual Corpo Cristo é o Cabeça, de modo que realmente a Cabeça Soberana desempenhava a Sua obra através dos membros assim incorporados. Eles não tinham nenhuma ação independente, nenhum plano particular, nenhum esquema ou nenhum empreendimento que fosse produto de seus próprios pensamentos, arrazoamentos, idéias, ou entusiasmos, mesmo que fosse “para Cristo”, ou “para o Reino”, ou “em Seu nome”. Tudo tinha que vir pela revelação do Espírito proveniente da Cabeça.

Agora, a segunda preposição mostra como foi no caso de Cristo e deve ser também conosco.

2. "EM”

Para Cristo, ‘em’ representava uma posição espiritual na qual Ele estava. Esta posição espiritual é sugerida em passagens tais como as que se seguem: "O Filho … que está (não estava) no céu.” (João 3:13). "Eu estou no Pai" (João 14:10).

Deve, naturalmente, ser reconhecido que este relacionamento era obra do Espírito Santo. A partir do momento da iluminação do Espírito sobre Ele no Jordão, todos os movimentos foram no Espírito; até mesmo a Cruz foi assumida "através do Espírito Eterno." Ele estava em Deus, e do lado de sua humanidade isto era mantido pelo Espírito. Havia sugestões, tentações, oportunidades, possibilidades, métodos, meios, idéias, provocações, emoções, sentimentos, e todas as atividades do intelecto, da alma, do corpo, mas era Seu procedimento manter essas coisas no Espírito Divino e não aceitar agir baseado neles. Ele não iria se engajar a qualquer um deles ou a qualquer homem, salvo se tivesse o testemunho do Espírito de que tudo procedia de Deus. Assim Ele era salvo do remorso, da confusão, do desapontamento, da vergonha, do fracasso, e do caos, que sempre se segue ao levantar do “homem natural (almático, Gk.)" no mundo espiritual. Assim, tendo sido ungido pelo Espírito, Ele permaneceu em Deus e se recusou a ser tirado desta posição. Isto é tudo na questão de vida abundante e eficácia de serviço.

 

3. "JUNTO"

 

Não vamos tentar, neste breve tratado, lidar com cada detalhe do significado particular desta preposição. Ela se refere de modo especial ao caráter corporativo do Corpo de Cristo. Sua importância é imensa, mas este não é o lugar para embarcarmos num tema tão amplo. Apenas observe aqui que o seu uso enfatiza o fato de que, no pensamento de Deus, aqueles que são “nascidos do alto” não são simplesmente muitos indivíduos, mas estão associados uns aos outros como membros de um Corpo. Eles estão “ligados” uns aos outros e a Cristo como Cabeça do Corpo, e como tal foram considerados por Deus em cada fase da obra redentora de Cristo. As palavras de Salmo 139:15,16 expressam este mistério. O resultado prático desta verdade é tratado em mais detalhe em outra parte.

O grande território de “em Cristo” tem sido apresentado, porém, devemos enfatizar esta contrapartida essencial da vida de Cristo. Como o Pai é a Cabeça do Filho, assim o Filho é a Cabeça do Corpo; e do mesmo modo como Ele permanece no Pai, assim Ele declara que devemos permanecer nEle. Não podemos ser levados a agirmos baseados em nada que proceda da nossa vida natural até que tenhamos julgado que aquilo está no espírito. Isto se aplica especialmente a questões religiosas, pois é nesta área que podemos cometer os maiores erros. A resposta de nossas emoções naturais, dos nossos arrazoamentos, da nossa vontade, ao impacto de algumas sugestões pode conduzir a muito erro. O perigo de muita obra evangelística, de muito ensino espiritual e de muita propaganda missionária está em sua tendência em atiçar as emoções e de se ganhar prêmios espirituais, ao invés de trazer a nota imperativa de Cristo e dos apóstolos.

Muitas decisões têm sido tomadas baseadas nessas condições as quais têm se mostrado incapazes de suportar a inevitável tensão da prova, sendo algo menor do que uma obra real do Espírito Santo.

Talvez nunca existiu um tempo quando houvesse mais do chamado ‘serviço cristão’, quando houvesse tanta organização, tanto maquinário, tanta propaganda, tanto consumo de tempo e de energia e de meios na empreitada ‘cristã’, ou quando houvesse mais pessoas interessadas; porém é duvidoso – falando comparativamente – se já tenha havido tanta ineficácia espiritual. A raiz da questão é a seguinte, quanto de tudo isso procede diretamente de revelação e da iniciativa de Deus pelo Espírito Eterno? Quanto pode ser verdadeiramente dito que a coisa surgiu pela revelação do Espírito Santo, ou que ‘o Espírito Santo disse’, ou que "pareceu bem ao Espírito’? Por outro lado, quanto disso é produto de discussão humana, de concepção, de impulso, de entusiasmo, de imaginação, de filantropia, de interesse numa boa causa, etc.? A medida da identificação do instrumento com Cristo numa união corporativa é a medida da obra real de Deus realizada através dele. Pode haver muito que pareça sucesso e que dê uma sensação de realização real, porém, quando ‘o fogo’ faz o seu serviço, descobre-se que a realidade por detrás do aparente é muito pequena. Ao longo da corrida ‘a carne se mostra como NADA", embora possa parecer que alcança resultados. Não é o que é feito para Deus, mas o que é feito por Deus que irá permanecer. A nós cabe vermos que estamos completamente em Cristo, e vivendo pelo Espírito. Todo o resto será espontâneo. Não pode haver um permanecer até que tenha havido uma real identificação, e isto nos traz para onde podemos prosseguir a fim de mostrar como esta união é eficaz.

 

Capítulo 2 - "Na Semelhança de Sua Morte"

 

Frequentemente tem sido salientado que a morte de Cristo tinha, e tem, um aspecto duplo. Primeiramente, há a substituição, que é única, isolada e conclusiva. Nada pode ser acrescentado a ela, nem pode ela ser compartilhada em sua eficácia vicária e redentora. Nós recebemos o benefício dela como um presente pela fé e somos justificados.

Mas há um segundo aspecto, a saber, o representativo. Neste, nós, na natureza de Adão, em seu estado caído, somos incluídos. O nosso pecado é tratado no aspecto substitutivo, porém nós próprios somos tratados no aspecto representativo. Embora ambos sejam vitais e estejam fundamentalmente relacionados à nossa salvação, o último aspecto encontrará a ênfase Divina quando chegarmos a viver a vida de Cristo e a cumprir o propósito de Cristo.

O Antigo Testamento está repleto desta última ênfase em tipo e em ensino. Abraão precisa ser separado da ‘terra’ (o mundo), da ‘parentela’ (os relacionamentos naturais), e da ‘casa dos pais’ (o ‘velho homem’). Como salientou um escritor, toda a sua vida foi uma aplicação constante do princípio da morte às muitas fases do homem natural. Ele deu o primeiro passo quando saiu da terra dos Caldeus, porém, o seu progresso foi limitado a Harã, até que seu pai morresse. O ‘velho homem’ não pode ser levado para além do Jordão (da cruz). A vida velha não pode chegar às fronteiras dos ‘lugares celestiais’. O referido escritor salientou o significado dos muitos relacionamentos e incidentes na vida de Abraão em sua natureza carnal, e do problema, impedimento e tragédia que eles trouxeram; e mais, como eles precisaram ser eliminados e abandonados. Alguns deles foram:

1. Egito – o terreno dos sentidos; a tentativa de se encontrar força espiritual e capacitação através do tangível, do aparente, e do presente.

2. Ló - "a mente natural." "A mente espiritual e a mente natural parecem a princípio tão unidas que é difícil fazer distinção entre elas. A diferença entre a mente espiritual e a natural é vista em todo o curso e conduta de Abraão e de Ló. Foi somente após Ló ter se separado dele que o Senhor disse para Abraão levantar os seus olhos”.

3. Os Cananeus – a falsa religião; espiritual, porém satânica; ritos acompanhados por canções e maravilhas, porém demoníacas.

4. Hagar e Ismael – o expediente; tentar obter fins espirituais por meios naturais; tentar ser frutífero, e isto por meio do esforço próprio, de meios carnais, em terrenos naturais.

O princípio pode ser seguido em outros detalhes de sua vida, porém limitamo-nos a salientar isto.

Abraão, a fim de entrar nos termos e na frutificação da aliança eterna, precisa ser um homem do Espírito, um homem espiritual, e isto na base da fé.

Do mesmo modo Moisés teve que ser disciplinado e preparado. Uma das mais notáveis e – para muitos – mais perplexas afirmações na Escritura está em êxodo 4:24: "O Senhor o encontrou, e procurou matá-lo"; e isto após a visão e comissão.

Sabemos que isto teve relação com a circuncisão, mas devemos nos lembrar que a circuncisão era o símbolo da retirada de todo o corpo da carne, e isto está relacionado à nossa identificação com Cristo na morte (Col. 2:11,12). Quarenta anos mais tarde, Moisés, tendo uma concepção do serviço Divino, tentou fazer a coisa por meios carnais, de sua própria vida natural. Isto trouxe o inevitável fracasso e estagnação. O princípio da morte precisou ser aplicado por mais quarenta anos, até que somente a honesta expressão em relação ao serviço espiritual fosse “eu não posso”. O senhor tinha deliberadamente se utilizado da dor para trazê-lo ao nada. A verdade fundamental, contudo, deve tomar alguma forma literal de reconhecido testemunho, deve haver uma expressão definida de um fato espiritual – se você quiser, uma ordenança; porém a ordenança não é nada em si mesma, somente como uma confissão da aceitação da realidade espiritual. A circuncisão era isto em Israel, a circuncisão de sangue, separando o homem natural do homem espiritual, o velho do novo; daí o incidente mencionado. O progresso de Moises foi repentinamente obstruído, e com um abalo ele foi levado à necessidade de fazer em um ato uma declaração definida e concreta da lei do fim da carne. Podemos ficar certos de que, se ensaiarmos carregar a carne incircuncisa, ou o homem natural para o terreno da vida espiritual ou do serviço, seremos esmagados – o homem natural irá se deparar com o desafio do julgamento do calvário.

Assim, vemos como a verdade da inclusão na morte representativa de Cristo está na raiz da experiência do Velho Testamento, e isto pode ser visto através das Escrituras. A história de Israel é um longo comentário sobre isto. O Mar Vermelho é a morte substitutiva, o deserto é a revelação da necessidade do Jordão como a morte representativa, ou a identificação na morte.

Tendo chegado às bênçãos da obra substitutiva de Cristo, e ao gozo da justificação pela fé, começaremos – se a nossa vida espiritual for pura e progressiva – a aprender quão grande é a fenda entre a velha criação e a nova, entre o homem natural e o espiritual. Isto virá a nós somente progressivamente, e linha a linha, porém, para Deus já é algo concluído. Para Deus não há sobreposição do natural com o espiritual, eles são pólos separados. Trazer os dois juntos está para Deus na natureza da fornicação espiritual e os frutos da vida e serviço são iniqüidades.

É Seu propósito tornar isto cada vez mais claro para nós, e, embora a nós possa parecer muita mistura e entrelaçamento, Deus irá nos mostrar com clareza cada vez maior que Ele tem conduzido as dimensões da Cruz entre os dois. Nós temos dado muita Escritura nos preciosos capítulos que mostram as diferenças fundamentais entre esses dois, o natural e o espiritual.

Ser um cristão não é apenas mudar a direção dos nossos interesses – não é desviar todas as nossas faculdades, habilidades, energias, recursos, emoções, perspicácia, etc., do eu ou do mundo para o cristianismo, para a religião, para o evangelho ou para o reino de Deus.

No terreno da vida e das coisas de Deus há duas palavras proferidas sobre o homem natural por Deus, "Nada" e "Não posso". Falhar em reconhecer o significado dessas duas palavras é chegar à desesperança, ao coração dividido, ao estéril terreno de Rom. 7. Luta infrutífera irá resultar se houver qualquer aspiração espiritual; e haja tal ou não (a noção no último evento sendo meramente aquele do homem natural direcionado à empreitada cristã) o serviço será ineficiente em toda realização espiritual. Nenhuma carne irá se gloriar em Sua presença, e a carne religiosa não é mais aceitável do que a carne do irreligioso. Quantos há que estão buscando alcançar um padrão de satisfação espiritual, ou fazer a obra de Deus, com suas próprias fontes de intelecto, de vontade, de emoção, de razão, de energia e de paixão. Daí toda a organização, maquinário e propaganda não apostólica.

Não! Para aceitação e para o serviço precisa haver um novo homem, e este novo homem possui uma nova vida, uma nova mente, um novo espírito, um novo caminho, uma nova capacidade, uma nova consciência, na verdade “tudo se fez novo”. A pessoa em questão chega a perceber mais e mais quão diferentemente Deus faz as coisas do modo como os homens as fazem; sim, e que coisas diferentes Deus faz. O propósito, os métodos, os meios e os tempos de Deus são um aprendizado e frequentemente uma disciplina para este homem em Cristo. Até que o “velho homem” esteja bem crucificado, os meios, os caminhos, os tempos e os objetivos de Deus são uma prova dolorida para ele, e ele ou irá se revoltar e se romper em si mesmo, ou irá descer às profundezas; mas de qualquer modo irá ver que na vontade de Deus o homem natural precisa ir para a cruz, onde Deus conclusivamente o coloca no homem representativo Jesus, o Cristo. O contato do homem natural com as coisas do Espírito é morte e desolação; por isso o Senhor está sempre tomando precauções contra esta vida natural em seus próprios filhos, passando-os através daquilo que os traz para baixo e os coloca, no lado natural, fora de ação. Ele colocou um espinho na carne de Paulo como precaução contra a exaltação de sua vida da alma; a fim de que não pudesse haver qualquer impedimento, pelo contrário, um aumento da utilidade espiritual. Temos um conhecimento muito limitado das nossas próprias fontes naturais – as motivações, a natureza dos nossos desejos, até mesmo para benção espiritual; os interesses pessoais no reino de Deus; a ânsia de possuir, de ficar satisfeito, de ter influência, reconhecimento, liberdade; e uma multidão de outros elementos constitucionais. O Senhor sabe como todas as nossas fontes de vida e de expressão estão contaminadas e estragadas. Ele não nos quer introspectivos e nos auto-analisando, mas Ele nos dará o Seu próprio veredicto sobre o “homem natural”, e nos pedirá para aceitarmos as exigências Divinas, que o homem natural deve ser crucificado. Quando, por fé em Seu julgamento e palavra, aceitamos a cruz, Ele prossegue em efetivar a morte em nós, e temos uma percepção crescente de tal necessidade. Então nos recusamos a nos mover, exceto no Espírito, no terreno do fato de Deus em Cristo - "Estou crucificado com Cristo e vivo não mais eu” (Gal. 2:20). Assim como o óleo santo da unção não podia vir sobre a carne do homem no Velho Testamento, assim também o Espírito Santo, tipificado aí, jamais virá sobre a carne não crucificada nesta era do Espírito. O calvário precede o pentecostes na história e na experiência. A verdadeira revelação da inutilidade do homem natural diante de Deus tem sempre sido um prelúdio da unção para o serviço. O “eu não posso” de Moisés, o “ai de mim” de Isaías, o “eu sou uma criança” de Jeremias, o “eu sou um homem pecador” de Pedro, o “em mim não habita bem algum” de Paulo, são típicos de todos aqueles que têm sido chamados por Deus, e essas expressões são fruto da aplicação do verdadeiro significado da cruz. E embora eles tenham sido entusiastas religiosos, e devotos a Deus no campo de sua alma natural. É sempre o amor de Deus que conduz por meio do calvário, por mais amargo que possa ser o cálice quando a alma (não o espírito) é derramada na morte, pois só assim pode haver aquela vida de emancipação das limitações do natural para as dimensões universais do espiritual.

Vamos olhar novamente a Palavra e manter este pensamento diante de nós, e, quando virmos que a Sua morte é a nossa morte, vamos dizer “Amém”: Senhor, opere isto"; e, então, estaremos prontos para “conhecê-Lo, e conhecer o poder de Sua ressurreição... sendo conformados em Sua morte."

 

Capítulo 3 - "Na Semelhança de Sua Ressurreição"

 

"Que no morrer de minha carne a vida com a qual Jesus venceu a morte possa mostrar o seu poder" (2 Cor. 4:11 - Conybeare).

Que fique bem compreendido que, embora a ressurreição como um todo possa estar aqui mencionada e alistada, não é a ressurreição futura do corpo, mas o imediato significado ESPIRITUAL para o cristão que particularmente domina a nossa consideração. A abrangência é muito grande, mas deliberadamente iremos procurar nos manter dentro dos estritos limites da verdade essencial e prática, usando tais ilustrações escriturísticas mais abrangentes quando parecer muito útil e necessário. Sentimos que Deus queria que colocássemos uma base para a oração e inquirição espiritual tão concisa e definida quanto possível nas mãos do Seu povo, e não que nos estendêssemos num tratado. O tempo é curto, as responsabilidades são muitas e prementes, os problemas são cruciais, e “ajudas” espirituais são poucas no terreno da vida e do serviço cristão. Por isso a nossa necessidade é a de termos princípios básicos vitais enfatizados como sinalizadores para a eficiência e vitória.

É muito importante que, de início, reconheçamos o grande objetivo e a tremenda ênfase que o assunto da ressurreição tem na Palavra de Deus. Como um princípio, é patente ou latente, conforme a medida do nosso discernimento, do início ao fim da revelação Divina da Escritura. Sem dúvida, todas as coisas que estão em Deus têm o seu início e valor vital desde “a queda” na e por meio da ressurreição representativa e inclusiva de Jesus Cristo. Observe o quanto está envolvido na atestação Divina de Seu Filho na ressurreição. Observe a atestação específica em si mesma. Não em Seu nascimento, nem em Sua morte, não em Belém, nem no calvário, é esta declaração especial feita a partir do céu – a coisa é verdadeira lá, sabemos – mas a atestação é reservada para a ressurreição. "Declarado Filho de Deus em poder ... pela ressurreição dentre os mortos" (Rom. 1:4). Salmo 2 prefigura o conselho maligno contra o Ungido. Este conselho é colocado em ação até o seu limite máximo; Ele é morto. A última questão é a possessão das nações; a questão imediata na ressurreição é um decreto (verso 7) "Tu és meu Filho; hoje Te gerei." Ele é o “primogênito dentre os mortos” representativo de um específico e peculiar tipo de filiação.

A esta mesma passagem a companhia de fiéis na presença de um posterior conselho maligno fez o seu apelo (Atos 4:25) e receberam imediatamente um reconhecimento Divino; o lugar tremeu, eles foram todos cheios do Espírito Santo, e houve outras questões triunfantes. Similarmente um testemunho eficaz nasceu em Antioquia da Pisídia com esta mesma passagem no centro da pregação (At. 13:33), com a clara referência Divina à ressurreição. Então, novamente, esta filiação transcendente de Cristo acima dos anjos e de tudo mais tem esta mesma passagem citada em sua base em Hebreus 1:5. Iremos ver mais tarde que isto está relacionado ao domínio no universo da raça em Cristo, e também ao destronamento do ‘senhor da morte’. (Heb. 2:5-15).

Agora, isto foi dito simplesmente a fim de mostrar onde o dedo de Deus traz o seu enfático selo, e como Deus é zeloso pelo testemunho da ressurreição de Cristo. Estamos, então, aptos para chamar a atenção ao princípio vital na experiência cristã como saindo da verdade Divina. Você já percebeu que isto que teve, e tem, a sua origem em Deus, que é trazido à existência por um ato sobrenatural de Deus, tem que passar pela morte a fim de que pela ressurreição possa ter seu supremo selo e atestação Divina?

O Velho Testamento está cheio de tipos desta verdade. Reflita apenas em Isaías. Ele foi trazido ao mundo por meio de um milagre. Não havia nenhum terreno natural a ser considerado nele. (Veja Rom. 4:19.) Contudo, Ele deve morrer, e (como é dito do corpo de Abraão) ele estava “bem morto” quando a faca foi levantada; mas por todo o tempo, a ressurreição é o ponto da ênfase Divina em sua história, especialmente na vindicação da fé de Abraão. Isaque era o tipo de Cristo e, como dissemos, embora Cristo fosse um milagre em seu nascimento, e verdadeiramente o Filho de Deus encarnado, contudo a morte prepara o caminho para um testemunho superlativo do céu. Sem rastrear este princípio (o que você pode fazer por você mesmo) em relação à Palavra, vamos observar a sua aplicação na experiência quanto a nós mesmos. Somos nascidos de Deus, e somos filhos no Filho por direito devido ao nosso nascimento do alto; mas quão verdadeiro é que o curso da nossa experiência espiritual parece ser um batismo cada vez maior na morte – Sua morte – a fim de que mais e mais do poder de Sua ressurreição possa ser conhecido por meio de nós e manifestado em nós. Parece existirem ciclos, ou marés, de morte e de vida, e, embora cada ciclo ou maré pareça circundar nosso fim mais completamente, ou nos deixar numa maré mais baixa do que nunca, lá vem, com uma plenitude cada vez mais crescente, um renascer de vida, de conhecimento e de poder espiritual. Assim, embora a morte destrua “o velho homem”, vivemos cada vez mais por meio desta vida, “o novo homem”, que não é humano, mas Divino, e somente sobre o qual – o selo de Deus repousa. Este é um curso deliberado tomado por Deus conosco.

Veja mais disto no serviço e na obra. Não é verdade que muitos, se não todos, dos pedaços da obra levantados por Deus a fim de cumprir algum ministério em Seu propósito eterno tiveram primeiramente toda evidência de terem nascido de Deus, porém, mais tarde, passaram por um tempo de profunda e terrível morte, desintegração, rompimento, perda, até parecer que não sobraria nada? Algumas vezes isto se dá por meio de perseguição, de massacre, e daquele conselho maligno; algumas vezes por meio de uma série daquilo que nós humanos chamamos de catástrofes, tragédias, desgraças. Algumas vezes as causas não são aparentes; elas estão no interior, como alguma coisa maligna exaurindo a própria vitalidade. Algumas vezes, novamente, é uma inexplicável prisão e pressão, uma paralisia e uma neutralização, e é difícil saber se a coisa é de dentro ou é de fora. Tudo o que sabemos é que a morte reina. Aplique esta regra ao longo de algumas grandes missões no exterior ou em nosso próprio país, e veja quão verdadeiramente isto se aplica. O que é verdade no maior é também verdade no menor – uma comunidade local, uma classe Bíblica ou dominical, ou outro pedaço da obra. Provado sempre que a iniciação da obra foi dEle, que fomos colocado nela por Ele, e que ela tem sido mantida em tais linhas que são consistentes com Sua mente e propósito, tal experiência de morte não é um argumento de que o Senhor não está em tal obra, mas pode ser vista como evidência do Seu cuidado em tornar a obra cada vez mais plena onde a sua atestação maior possa ser dada.

O princípio vale na questão da verdade recebida. O Senhor pode nos revelar uma verdade que seja de grande importância e que se destina a ser tremendamente frutífera na vida e no ministério. Ela vem com o poder de uma revelação, e, por um momento, nós nos alegramos em sua luz, não falamos de outra coisa, e descobrimos que funciona. Então, algo acontece. Seja o que possa ser, o resultado é que descemos para a morte com e por causa dessa verdade. Por um tempo ela parece ter perdido seu poder, e toda esperança de que seremos salvos é abandonada. Ficamos a imaginar se honestamente seremos capazes de crer nessa verdade novamente, muito menos pregá-la. Porém, por um toque de vida que nos leva como aqueles que sonham (Sal. 126:1) e, apesar de todos os nossos medos passados, essa mesma verdade é a nossa principal ênfase, porém agora com uma solenidade e realidade não conhecida antes. Além do que o Senhor está tornando o seu ministério um poder para os outros que é completamente novo e anteriormente desconhecido. Assim, em tudo isso parece que Ele obtém mais para Si mesmo pela ressurreição do que Ele fez pelo nascimento. Isto pode parecer um grande mistério, mas é evidente e verdadeiro na experiência. Há outras direções em que isto se aplica, uma das quais podemos mencionar. É nos relacionamentos. Quão frequentemente temos nos deparados com esta perplexa experiência. Entre os referidos – algumas vezes nos limites mais profundos – por algum motivo, geralmente sem qualquer terreno natural, tem vindo a pressão mais severa. Parece que o velho terreno do relacionamento é inteiramente quebrado e perdido. Pode ser devido a alguma crise espiritual na vida de um daqueles afetados, algum chamado para o serviço, ou para se ir um pouco mais longe com o Senhor, ou alguma prova de fé, ou de lealdade a Deus. Seja qual for a causa, visível ou não, tal experiência não é incomum. A primeira questão é um fim do tipo ou do nível de relacionamento existente até então. Poderia parecer algumas vezes que a coisa toda desmoronou e desapareceu para sempre. Em tais horas surgem sérios questionamentos em relação ao aparente antagonismo entre a idéia concebida sobre o que Deus exige e o que parece manifestadamente ser óbvio, dever comum para com os outros.

Esta é uma hora amarga e crucial para a vida da alma. A última questão – se tem havido uma aceitação definitiva em se sofrer a perda de todas as coisas por causa do Senhor, e um apegar-se a Deus, embora cegamente e com muita fraqueza – é que a coisa toda é trazida de volta novamente, mas, contudo, não a mesma. "Quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer," (1 Cor. 15:37). A coisa está sobre um plano mais elevado; algo mais puro, mais santo, mais forte, mais profunda e capaz de uma maior frutificação espiritual. Em suma, na sepultura tem-se deixado muito do humano, e na ressurreição a coisa tem se tornado muito mais Divina. Os elementos que são temporais e naturais foram suplantados pelo espiritual e eterno.

Tendo dado este espaço para afirmar e ilustrar um fato, e enunciar ou divulgar uma lei duradoura, devemos agora dizer algo sobre a natureza da ressurreição.

O que é a ressurreição? É o poder da vitória sobre a morte. Qual é o fator central na ressurreição? É a vida que não pode conhecer a morte, uma vida que é indestrutível. Tal é a natureza da ressurreição a qual voltamos nossa atenção. Há uma ressurreição que não passa de uma reanimação do corpo por um tempo, para o julgamento. Não é este o nosso assunto. Estamos falando da ressurreição de Cristo e da nossa inclusão nEle.

Pelo nosso novo nascimento a partir do alto tornamo-nos participantes da vida de Deus. Aquilo que a Escritura em nossas versões chama de “vida eterna” é a única possessão do nascido de novo; nenhum homem a tem por natureza. Todo o curso da verdadeira vida espiritual é para o aumento e desenvolvimento desta vida, e isto particularmente acontece, como temos visto, por meio de crises e ciclos de morte e ressurreição. Qual é o propósito supremo do Senhor com os Seus filhos? É, sem dúvida alguma, fazer com que eles vivam somente por Sua vida. Para este fim Ele irá cada vez mais remover suas próprias vidas.

Na medida em que o tempo do arrebatamento da Igreja se torna mais iminente, esta verdade irá ter uma ênfase maior, de modo que para se viver vitoriosamente, ou trabalhar eficazmente, terá que haver um grande anseio pela vida do Senhor. Quando os santos forem arrebatados para que não vejam a morte, e quando aquele grande grito de vitória sobre a morte e a sepultura se abrir (1 Cor. 15:54,55) não será somente por alguma operação externa do poder Divino, mas será o triunfo da vida ressurreta dentro do Corpo de Cristo expressando a si mesma naquela consumação final gloriosa de um processo de ascendência que tem se dado desde o momento quando a vida foi recebida no novo nascimento pela fé no Senhor Ressurreto. Esta é a verdade mais importante a se reconhecida, pois ela explica tudo. Por que devemos conhecer a fraqueza, a impotência, a inutilidade, no lado de nossa vida natural? Enfaticamente, para que o Seu poder possa se “aperfeiçoar na fraqueza”. E qual é o Seu poder?

" E qual a sobre excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus." (Ef. 1:19,20). É o poder da vida ressurreta. Quanto mais espiritual um cristão se torna, mais ele irá perceber sua dependência da vida de Deus para todas as coisas. Isto será verdade tanto fisicamente quanto de qualquer outra maneira.

O princípio central de qualquer “cura Divina” que realmente seja de Deus e para um propósito espiritual é, Rom. 8:11, uma vivificação do corpo mortal pela vida ressurreta. Isto necessariamente não carrega em si uma cura física total, mas realmente significa uma vitalização tal a ponto de transcender a fraqueza ou a enfermidade que impede o cumprimento da vontade de Deus na vida ou no serviço. Significa uma adesão da vida Divina em nosso espírito de modo que somos capacitados a fazer muito mais do que é humano ou naturalmente possível. Esta vida não pode ser manipulada e usada pela carne. Imediatamente há um descer para um nível natural por parte daquele que tem sido conduzido numa vida de fé, haverá um aumento de morte. Uma atmosfera carregada com a vida de Deus é sempre um lugar de renovação, revigoramento, e fortalecimento para aquele que é espiritual.

Se Enoque era um tipo dos cristãos que irão ser arrebatados para que não vejam a morte, então devemos lembrar que “pela FÉ Enoque foi transladado”. Qual é a natureza desta fé? É a fé que depende da vida Divina para todas as coisas, e é, portanto, um testemunho da ressurreição de Cristo. Daí, quando a vinda do Senhor estiver próxima, seremos forçados a viver exclusivamente por Sua vida - "a vida com a qual Ele venceu a morte" Esta é a vida pela qual o povo de Deus tem triunfado em todos os tempos. Um estudo mais acurado do Velho Testamento irá revelar que foi a fé na vida da ressurreição que trouxe a vindicação Divina. "Para que pudessem obter uma melhor ressurreição" foi o motivo que os fez vitoriosos na morte e, portanto, sobre a autoridade da morte. A ascendência de espírito tão notadamente característica dos cristãos do Novo Testamento é para ser levada em conta no terreno de uma vida dentro do espírito deles que não pode ver a morte, a vida daquele que “não morre mais; a morte não tem mais domínio sobre Ele,” pois “era impossível que Ele pudesse ser retido pela morte”.

Agora, é importante lembrar que a morte não é apenas uma lei ou um princípio. Ela é isto, mas as Escrituras constantemente deixa claro que por detrás dela há uma pessoa. Somente ao dar vida eterna é que o Senhor dá de Si mesmo – pois, disse Ele, “Eu sou a ressurreição e a vida” e é Cristo em você a esperança da glória” – assim, por trás da morte está aquele “que tem o poder da morte, isto é, o Diabo”. Conybeare traduz assim: “o senhor da morte”.

A grande batalha do Egito que resultou no estabelecimento daquilo que por todo o Velho Testamento foi colocado como uma ilustração clássica do exercício do poder Divino supremo, não era originalmente entre Jeová, de um lado, e faraó e os egípcios, de outro. Os últimos estavam envolvidos, e foram completamente destruídos por que, diante da revelação e manifestação Divina, persistiram na rebelião. A batalha real era entre Jeová e “todos os deuses do Egito” (Ex. 12:12), os quais deuses não eram outros senão a hierarquia daquele que uma vez teve a pretensão de ser “igual ao Altíssimo”, e tinha assumido o papel de “o deus deste mundo”. Um entendimento correto desta história tornaria mais claro que era um conflito entre o Senhor da vida e o senhor da morte, e os hebreus foram somente tirados do reino das trevas e da autoridade da morte porque um cordeiro tinha derramado o seu sangue, e pela morte tinha figuradamente destruído aquele que tinha o poder da morte. Isto é o pano de fundo do calvário.

Em Sua cruz Cristo atraiu sobre Si mesmo toda a hierarquia do mal, e desceu às partes mais baixas do domínio dessa hierarquia, e, então, por causa da vida que não podia ser retido pela morte, despojou os principados e potestades, e sobre eles triunfou, e na ressurreição, acima de todo governo e autoridade, foi o primogênito dentre os mortos – O primeiro e inclusivo de todos que deveriam ser identificados com Ele. O triunfo final do Seu Corpo será a consumação de Apocalipse 12:11 – vitória sobre o sistema e seu poder por causa da vida do Senhor Ressuscitado habitando dentro. Se é verdade que isto é progressivo, então é o poder de Satanás como “o príncipe deste mundo” que está sendo quebrado pela vida crescente de Cristo em nós; ou, colocando de maneira mais útil, o poder de Satanás somente pode ser destruído quando nós, através da morte, conhecemos Cristo no poder de Sua ressurreição e recebemos mais e mais de Sua vida ressurreta.

Concluindo, vamos salientar que, após a Sua ressurreição, nosso Senhor não mais, devido à natureza peculiar de Seu estado ressurreto, estava sujeito a limitações naturais. O tempo e o espaço não mais o controlavam. O princípio se mantém e se aplica agora. Quando há um viver nos valores e no poder da ressurreição, somos filhos da eternidade. A oração alcança os fins da terra, e o significado do nosso estar e fazer é de dimensão eterna; não há limitações.

Assim, então, amados de Deus, a vida natural não é mais um critério; seja ela forte ou fraca, não importa. Sua força não significa eficácia nas coisas espirituais, seja esta força intelectual, moral, circunstancial, social, física. Sua fraqueza não carrega uma desvantagem. Somos chamados para viver e servir somente em Sua vida, e esta é a única eficácia. Então, precisamos tentar guardar na mente que o propósito do Senhor, em tudo o que parece ser destrutivo a nós, é para nos levar a este plano que é, em todo sentido, sobrenatural.

E mais, devemos entender que todos os meios pelos quais esta vida possa ser fortalecida e aumentada são usados plenamente, e um claro discernimento do Corpo de Cristo é de suprema importância. Esta vida é a vida do Corpo corporativo, e o membro individual pode apenas tê-la em relação a isso. Esta questão é tratada com mais profundidade em outro lugar, porém aqui ela deve ser a palavra final, devido estarmos lidando com a inclusão em Cristo, e este é Cristo em Sua plenitude como Cabeça; mas não somente como Cabeça, mas como um Corpo. O que é verdade sobre a Cabeça precisa ser verdade sobre os membros. O que é verdade sobre Videira deve ser verdade sobre os ramos. O que é verdade do Último Adão deve ser verdade sobre cada membro de Sua raça. "Plantados juntamente na semelhança de Sua ressurreição" disse o apóstolo (Rom. 6:5), e ele orou para que isto pudesse ser mais e mais experimental - "para que eu possa conhecê-lo, e o poder de Sua ressurreição”. (Fil. 3:10).

Esta é verdadeiramente a oração do Espírito Santo nos servos de Cristo buscando tornar real a grande verdade de João 5:21,25,26 -

"A hora... agora é."

"A hora já chegou."

 

Capítulo 4 - Ascensão e Glória

 

Embora muita ênfase seja dada na morte e ressurreição do Senhor Jesus, não é geralmente percebido que a Sua ascensão não é menos importante como verdade fundamental para nossa vida nEle e para o Seu propósito universal. Numa revelação maior da vida espiritual em Cristo que veio progressivamente por meio da unção do Espírito Santo muito é falado, por um lado, sobre o nosso assentar nos lugares celestiais em Cristo, e, por outro lado, somos lembrados de que somos estrangeiros, forasteiros e peregrinos aqui. Esta revelação interpreta a Bíblia toda ao longo de certa linha, e a declaração chave a esta varredura da Palavra é que o lugar e a base de toda vida e obra, o lugar do modelo, do propósito, e de toda fonte do nosso chamado em Cristo está no Céu.

Há duas palavras que representam ou significam duas metades de uma grande verdade – ascensão e translação; estas palavras se completam. Uma torna possível a outra, e a outra exige a primeira. Ascensão é um ato, conclusivo e definitivo. Translação é um processo que culmina num clímax. Quando o Senhor Jesus ascendeu às alturas e foi “recebido”, isto foi representativo e relativo, exatamente como o foi Sua morte e ressurreição. Como o representante dos muitos filhos que Ele traria à glória, Ele imediata e definitivamente transferiu da terra para o céu a fonte da vida espiritual, a fonte da existência espiritual; e de fato tudo que pertence à salvação, santificação, serviço, glória, está agora nos céus, e não pode ser encontrado na terra.

A partir do ponto do “nascer do alto”, tudo implicado e envolvido tanto em natureza como em propósito vem do alto. Um primoroso camafeu disto é encontrado no salmo oitenta e sete. Os termos são ilustrativos. Aqui a predileção de Deus é vista pelas habitações espirituais em contraste com as carnais. Então as coisas de glória estão relacionadas a esta cidade espiritual. Então o orgulho das nacionalidades dos homens é revisto: eles se gloriam por terem nascidos no Egito, na Babilônia, na Filistia, em Tiro, ou em Cuxe. Porém, transcende a todo orgulho aqueles cuja cidadania é de Sião e sobre os quais a franquia de Sião lhes foi conferida.

O livro da vida do Cordeiro surge à vista, e os nomes são mencionados, e a realização desses cidadãos celestiais é que todas as suas fontes estão lá. Deles é um chamado celestial, vida, visão, cidadania, caminhada, esperança, país, reino, etc. Uma das coisas mais notáveis na pré-ascensão do povo de Deus é o fracasso de todas as coisas desta terra – embora dadas por Deus – para satisfazer a visão e a expectação de Seu povo de mente verdadeiramente espiritual. Abraão tinha a promessa de uma terra e de uma cidade; ele moveu-se com Deus, mas está muito claro que, na medida em que sua fé se expandia, as possibilidades mais plenas de realização sobre a terra fracassaram em preencher a esperança e a promessa que ele tinha. Ele entrou na terra, mas absolutamente não ficou satisfeito de que a promessa estivesse cumprida; na realidade, embora houvesse benção e crescimento, ele ficou menos satisfeito. A verdade é que a sua vida espiritual estava expandindo e com ela a sua fé exigia algo mais do que aquilo que era da terra. Aquilo para o qual ele ansiava no início, como sendo adequado para satisfazer a expectativa por meio da promessa, ele entrou numa comunhão mais íntima com Deus a ponto de considerar aquilo como totalmente insuficiente. Isto o levou a uma série de recusas e rejeições de coisas da glória terrena. A Terra Prometida por fim cessou de ser para ele uma coisa da terra, de modo que autores sob a iluminação do mesmo Espírito que conduzia Abraão nos contam que ele olhava para “pátria melhor ... uma pátria celestial," e "uma cidade cujo construtor (arquiteto) é Deus”.(Heb. 11:16,10). Contrastando tais passagens com Mateus 3:9, João 8:56, Gálatas 3:7, 4:26, Hebreus. 12:22, certamente somos compelidos a reconhecer por que a visão de Abraão se tornou mais e mais "do outro mundo" na medida que sua fé se tornava mais clara. Simultaneamente a este lançar atrás no horizonte, e como um meio a este fim, tudo da terra foi levado para a morte, para se passar para o terreno da ressurreição pela vida ressurreta. Era, então, uma coisa não mais da terra, mas do céu. Isto se aplica as possessões, relacionamentos, perspectivas, visão, promessa, fé, serviço, capacidade.

Um princípio importante está aqui revelado como fundamental para a realização de Deus e para toda vida eficaz e serviço em comunhão com Deus. DEVEMOS VER CADA COISA DIVINA COMO VINDO DE CIMA, E NÃO DO NÍVEL DA TERRA.

Tais frases como “assumir a obra cristã”, "entrar no serviço cristão”, possui um conceito muito perigoso e falso. A menos que tais pretensos trabalhadores tenham tido suas próprias obras (até mesmo para Deus) levadas para a morte, e mesmo eles próprios, qualquer movimento em coisas que estão relacionadas à vontade de Deus irá resultar em uma de três coisas – ser esmagado por elas, ou chegar mais cedo ou mais tarde a uma paralisação, como num beco sem saída, ou prosseguir com uma aparência de sucesso, porém sem eficácia alguma no sentido celestial, sendo a coisa que está sendo efetuada deste mundo, embora religiosa e bem intencionada.

Moisés sem dúvida alguma teve uma revelação celestial no Egito. Pela iluminação do Espírito ele viu que o pobre, as oprimidas, esmagadas, destratadas multidões de Semitas eram os eleitos de Deus (Heb. 11:25). Ele mais tarde viu que a cruz como a reprovação de Cristo era o método de redenção (verso 26). Então ele viu que o pecado, em seu caso, seria reter as agradáveis vantagens deste mundo em negação à cruz e seu objetivo. À luz disto ele tomou uma decisão; ele rejeitou, ele escolheu, ele legou, e não temeu. Porém, mesmo quando ele chegado à posição em seu espírito, ele teve que aprender a principal lição de sua vida, a saber, que visões celestiais exigiam instrumentos celestiais para a sua realização. Ele ensaiou efetivar esta revelação do ponto de vista de alguma vantagem no terreno. Isto prejudicou tudo, trouxe confusão, retardo, vergonha, e medo. Ele teve que sair e ser levado em disciplina ao seu famoso “eu não posso”, e, então, entrar na situação a partir do alto. O efeito real era ter sido tirado para fora e para cima, e, então, vir sobre a situação a partir de cima; posteriormente Moisés foi um homem ligado ao trono de Deus. Sempre tem sido desta maneira. Para padrões, comissões e poder, um lugar de ascendência tem sido o método Divino.

Isto pode ser visto no caso de Moisés, Davi, Isaías, Ezequiel, Paulo, outros.

"Então o Espírito me levantou e me levou… (Eze. 11:1, etc.) é uma sentença que implica a ordem Divina. Isto não é a elevação da alma por meio de imaginações, êxtases, idealismos, ou visões mentais. Tais, tanto falsas como verdadeiras apresentações de grandes perspectivas podem ser apresentadas pelo Maligno. O Mestre recusou as elevações e visões dadas pelo inimigo porque a verdadeira perspectiva somente era dada por meio da cruz.

Paulo chamou a si mesmo de "um sábio arquiteto," mas isto em sua lingual real apenas significava alguém que tinha sido permitido olhar o projeto do arquiteto e que estava trabalhando em conformidade com tal projeto. Para esta olhada ele tinha sido “apanhado”, mas estar “no Espírito” é sempre ser apanhado. O Senhor Jesus disse muito sobre estar no céu embora sobre a terra. "O Filho do homem que está no céu" (João 3:13) "O que ele (o Filho) vê o Pai fazer… isto o Filho também faz da mesma maneira" (João 5:19) Seu espírito tinha uma união celestial com o Espírito Santo, e assim Ele trabalhava. Uma coisa é tomar até mesmo a Bíblia como um manual – um sistema de verdade, de ensino, de prática, e ordem; outra coisa completamente diferente é enxergar os princípios eternos e espirituais por detrás dos preceitos, das práticas, e do sistema. Uma coisa é viver e trabalhar conforme a transmissão da verdade por meio de uma inteligência humana, isto é, uma verdade infinita sendo modelada em termos finitos a fim de fazê-la inteligível aos homens. Outra coisa é compreender o significado infinito da revelação por meio de um espírito revitalizado e renovado. A transmissão representa o alcance humano, a revelação espiritual transcende infinitamente a isto, e exige uma mente celestial – a mente do Espírito em oposição a mente carnal.

Somente aquele que foi feito um com o Cristo exaltado possui a mente de Cristo e pode efetivamente servi-Lo. De muitas maneiras o fato, a natureza e a necessidade da união com Cristo é enfatizada em toda a Bíblia, especialmente no Novo Testamento. Ele subiu com as chaves da autoridade em Sua possessão. Como homem e por causa do homem Ele tirou o domínio do príncipe deste mundo. Como um poderoso conquistador Ele foi “recebido”. Este retorno vitorioso foi previsto no espírito do salmista quando ele cantou:

"Levantai as vossas cabeças, ó portais eternos; para que entre o Rei da glória...O Senhor poderoso na batalha..." (sal. 24:7,8).

Se é verdade que Cristo levou a nossa humanidade, redimida, purificada, santificada, para o próprio trono de Deus, e está reproduzindo esta união corporativa dEle mesmo conosco e de nós mesmos com Ele na Igreja que é o Seu Corpo, então, união na ascensão significa que nós agora temos uma posição no lugar de Sua autoridade: é para nEle termos domínio sobre todos os principados e potestades. A maneira mais segura de afirmar isto é que a Sua autoridade flui através do Seu Corpo, para todos os seus membros.

Há outras portas mencionadas nesta mesma conexão além dos “portais eternos." Há os portões do Hades", que significam os conselhos, esquemas e julgamentos do inferno. Esses são representados como estando contra a Igreja. Por isto é dito que, por causa da união celestial com e nEle que atravessou triunfantemente pelos portais eternos, esses outros “portões” não irão prevaslecer, porque Sua autoridade está na Igreja, e a Igreja está em Sua autoridade. Não a um grupo de judeus como tais, ou a um núcleo de reino terreno relacionado a qualquer época, mas ao núcleo de Sua Igreja foi que Ele dirigiu essas palavras sobre a edificação daquela Igreja e sobre sua exaltação sobre os conselhos do inferno. (Mat. 16:18). Para eles Ele também disse, "Eis que vos dou toda a autoridade...sobre todo poder do inimigo" (Lucas 10:19); isto, à luz de Sua cruz que era o pano de fundo permanente de todas as Sua declarações e ações. Não pode haver qualquer derramar do Espírito em e sobre os crentes, enquanto a condição de crucificados em Cristo, sepultados, ressuscitados, e ascendidos tenha tomado o seu lugar. Para Eliseu receber a “porção dobrada” do espírito do seu mestre, teve ele que passar o Jordão com ele e estar com ele no lugar de ascensão.

É sempre assim. O Espírito Santo media a autoridade da Cabeça para o Corpo, e para isto, “o estar ligado à Cabeça” numa união celestial é essencial. A Igreja é um corpo celestial, e não uma sociedade terrena, uma instituição, uma organização. Os sistemas eclesiásticos deste mundo que chamam a si mesmos de “a Igreja” são muito frequentemente uma caricatura grotesca. Não há facções, denominações, "sucursais da Igreja," com Deus. Apenas uma única Igreja existe na mente e no interesse de Deus, e esta é “a igreja dos primogênitos”, e todas as demais nesta justaposição é porque tem havido uma tentativa cada vez mais de se estabelecer algo para Deus nesta terra como sendo da terra. Deus não está nisto, mas está deixando a coisa alcançar o seu próprio fim em confusão, ou prosseguir em sua desilusão. Ele está silenciosamente, sem o som do machado ou do martelo, colocando Suas pedras eleitas num templo espiritual, numa casa espiritual. Somente aqueles que tiverem a vantagem do terreno dos lugares celestiais irão ver isto, desaprovando o falso, e encontrarão a plena bem-aventurança em fazer aquilo que o Pai está fazendo.

Nós agora avançamos para falar um pouco sobre aquela metade desta verdade implicada na palavra “translação”. No início dissemos que “translação é um processo que culmina num clímax”. O clímax é, naturalmente, a aparição do Senhor e Salvador Jesus Cristo. O curso todo da experiência cristã quando trabalhada por Deus é um curso de progressiva transição ou translação do terreno para o celestial. A fé é o princípio da translação, e sua própria natureza exige uma base que é espiritual não terreno. O tratamento do Senhor para com o Seu povo sempre têm resultado em perda de toda base de confiança e garantia terrena, e em completa dependência dEle mesmo.

A fé sempre nos traz para situações precárias e difíceis. A fé sempre exige um deixar de lado das coisas visíveis e temporais. A fé ameaça, e cumpre a sua ameaça, a fim de desorientar e confundir os nossos julgamentos naturais, sabedoria, perspicácia, esperança, confiança, e segurança. A fé nunca falha em cortar os laços da segurança natural, e em secar os recursos das fontes humanas. Tudo isso tem o propósito de abrir um todo um sistema de plenitude celestial. Deus torna a revelação indispensável e Suas próprias realidades celestiais absolutamente essenciais à existência. Assim Ele nos coloca em algum desafio e demanda, uma crise é precipitada, um passo em obediência de fé é requerido, e, quando ele é dado é um passo para cima que nos coloca num terreno espiritual onde vemos aquilo que não víamos antes. Assim, por uma sucessão de passos de fé para cima vamos tendo a fé que Deus elege trabalhada em nós em preparação para aquele clímax na translação. É uma fé coorporativa em todo o Corpo de Cristo - provando ser aquilo que realmente é, um corpo celestial – que irá trazer o advento de Cristo. "A Segunda Vinda de Cristo," não é algum evento meramente histórico no cronograma profético Divino. É o clímax da fé no Corpo de Cristo, a qual fé tem separado este Corpo absolutamente das coisas do mundo e das coisas terrenas, mesmo que sejam coisas e sistemas religiosos. A obediência de fé aumenta a capacidade para compreender princípios espirituais, eternos e invisíveis do eterno propósito de Deus, e, assim, torna possível a eficácia deste propósito. Certamente este é o princípio que se vê em Hebreus 11 como um sumário da natureza e do curso da fé. Mas é “uma só fé”, ou seja, “a fé do Filho de Deus”. Esta fé é uma energia poderosa, espiritualmente militante, e os meios pelos quais as batalhas do Senhor têm sido sempre travadas. Assim, é este o grande conflito final contra a hierarquia satânica que irá ser trazida para uma questão vitoriosa pela fé do Cristo triunfante em Sua Igreja. (Apo. 12:11). Assim será estabelecida a autoridade dos CÉUS sobre as “portas” (conselhos) do inferno por meio da Igreja, e a terra irá sentir o impacto desta fé triunfante.

Este tipo de fé arrebatadora é raro e poucos são os que irão pagar o preço. Bem, possa o Senhor perguntar se Ele encontrará este tipo de fé na terra em Sua vinda. Que seja enfatizado mais uma vez esta transferência de todas as coisas para os lugares celestiais, de modo que sintamos mais e mais o estranhamento dos estrangeiros e a falta de lar dos peregrinos aqui, e a familiaridade em coisas espirituais e celestiais, é o curso natural da verdadeira vida de Deus. Quando o clímax vier, e formos finalmente transladados, isto não será nenhuma grande mudança para o nosso homem interior; não haverá nenhuma dificuldade ou sentimento de sentir estranho ou fora do lugar. Será a última fase na jornada espiritual onde a glória irá irromper em nós, e, como Enoque, "não somos mais, pois Deus nos tomou para Si."

Apenas resta ser dito que este é o caminho da, e para, a glória.

A glória é sempre glória celestial. Ela finalmente será manifestada numa humanidade aperfeiçoada. No presente ela está secretamente dentro do espírito do cristão, e com cada novo passo para cima em fé, aquilo que não pode ser definida às outras pessoas se torna mais maravilhoso para ele. Seria uma pobre descrição da glória Divina dizer que ela é incorrupção e incorruptibilidade, perfeição de entendimento, perfeição de harmonia, perfeição de capacidade, perfeição de graciosidade. Porém quase imperceptivelmente o movimento de fé e a ação da graça estão levando a isso. A semente incorruptível que torna possível o corpo incorruptível já está nos filhos de Deus pela fé. Há um abrir dos olhos dos seus entendimentos , e as coisas celestiais para eles são muito mais reais do que as coisas visíveis. Há uma “paz que transmite entendimento” realizado em crises profundas, que é o fruto de uma harmonia da nossa vontade com a vontade de Deus. (A palavra “paz” seria sempre melhor traduzida como “harmonia”.) Assim também capacidade espiritual é aquela que transcende as limitações de tempo e espaço, e que confina o universo em efeitos e questões. Nem precisa ser dito que a graciosidade do amor Divino, compaixão, ternura, consideração, humildade, etc., são a glória de Deus.

Essas coisas, contudo, não toca tudo aquilo que Sua glória significa. Perfeição de caráter, capacidade e serviço, trazem perfeição de satisfação. Isto não é senão a base de Sua glória. Aqui temos que parar um pouco. Esta glória somente pode ser conhecida no espírito e não retratada em palavras. Lembramo-nos de que está escrito que fomos chamado “para Sua glória eternal” (1 Ped. 5:10), e que a nossa salvação é “com glória eterna” (2 Tim. 2:10) e que a leve aflição “produz” um mui excelente peso de glória" (2 Cor. 4:17).

Assim, como fomos crucificados juntamente com Ele, sepultados com Ele, ressuscitados com Ele, assim fomos exaltados e glorificados juntamente com Ele.

Que tenhamos graça para que cada movimento de Deus pelo qual Ele fará a nossa união na ascensão manifesta e experimentalmente real possa encontrar um “amém” em nossos corações, custe o que custar no desarraigar de nossas vidas da terra.

Ele quer que vejamos os céus sempre abertos e o “Filho do homem” representativo e inclusivo em glória CONOSCO, mesmo estando nós sobre a terra; todas as coisas no ministério aqui se movendo para os céus.

Com essas verdades celestiais diante de nós, vamos descobrir o significado e a força de exortações como:

"Não acumuleis para vós tesouros na terra … mas ajunteis para vós tesouros no céu" (Mat. 6:19,20).

"Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está … Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra (Col. 3:1,2).

Se vamos aparecer com Cristo em glória, devemos ter uma vida já escondida com Cristo em Deus, e estarmos mortos para as coisas da terra.

"Pois morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus" (Col. 3:3).

 

FIM 

 

*A tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da Silva,  que, por reconhecer  a  excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de Cristo, para sua edificação. Peço aos  irmãos  que possuírem conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as suas preciosas observações e retificações para: valdineibr@gmail.com

 

 

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.

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